Divirtam-se com o excelente texto do Parsifal:
"O ex-reitor da UFPA e atual secretário de
Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Pará, Alex Fiúza de Mello, deu o ar da sua pena na topografia plebiscitária:
ele é contra a divisão e inaugura a sua tese voltando ao século XVIII, para lá
encontrar Adam Smith e Rousseau.
Eles disseram a Fiúza que também
são contra a divisão, pois, nas citadas obras de ambos ("A Riqueza das
Nações" e "A Origem das Desigualdades entre os Homens",
respectivamente), não existe qualquer ocorrência que possa concatenar extensão
territorial com desenvolvimento.
A mediunidade não é um privilégio
exclusivo do secretário. Eu estive nessa sessão espírita, e asseguro que não
passa de esforço vestibular dar fundamentos territoriais às obras citadas,
porque em nenhuma delas há a mais tênue correlação do elemento geográfico com
as demais vertentes defendidas, até porque no Velho Mundo de antanho,
território era preocupação de reis e não de filósofos.
Voltando ao presente, argumenta
Fiúza de Mello que tanto países de grandes territórios quanto de pequenas dimensões
são "gigantes da economia", como EUA, China e Canadá; e Japão, Suíça
e Coreia, respectivamente.
Os exemplos não servem à
fundamentação desejada. EUA, China e Canadá têm territórios próximos ao do
Brasil, mas, o primeiro tem 50 estados e a China 34 subdivisões e três cidades
estados. O Brasil apenas 27 e mais o Distrito Federal.
O Canadá é um caso à parte: por
ser um dos países com maior vazio demográfico do mundo, possui 10 estados e
três territórios. A grosso modo, somente este último acudiria à tese, mas, um
estudo menos epidérmico da federação canadense descortinaria que o país, que já
foi uma confederação, guardou tal autonomia geopolítica que seria crasso
equívoco emprestar-lhe a concepção geográfica, para comparações com o Brasil.
Quanto ao exemplo dos
"pequenos que são grandes", Fiúza de Mello não atentou para o tropeço
cometido: o Japão, com território quase equivalente a ¼ do Pará, é dividido em
47 estados, com executivo, legislativo e judiciário autônomos. Convenhamos,
isto é um exagero, mas é assim.
Quando vamos à Suíça constatamos
que o secretário Fiúza só leu Smith e Rousseau para escrever o seu artigo.
Cabem 30 "suíças" dentro do Pará, e a Suíça é dividida em 26 estados
autônomos que, segundo a Constituição da Federação Helvética (o que nós
chamamos de Suíça), são independentes e soberanos.
Quanto a Coreia, é preciso
informar ao Doutor Mello que não existe a "Coreia". Na verdade há a
Coreia do Norte e a Coreia do Sul. Aquela, uma ditadura militar com uma área 10
vezes menor que o Pará; mesmo assim é dividia em 13 estados; esta, uma
democracia com área 11 vezes menor que o Pará, é dividida em 9 estados, seis
cidades metropolitanas e um distrito federal, ou seja, 16 subdivisões.
Portanto, os exemplos usados pelo
secretário, mais servem aos defensores da divisão, pois, ele mesmo afirma, e aí
ele acerta, que são países com desenvolvimento admirável (exceto a Coreia do
Norte, que é uma ditadura), quem sabe, porque são inteligentemente
subdivididos.
Quando Fiúza de Mello se muda
para o Brasil e tece a mesma lógica (há estados grandes e desenvolvidos e há
estados pequenos subdesenvolvidos) mais um equívoco de avaliação é cometido, ao
colocar São Paulo na conta dos grandes: São Paulo está entre os menores estados
do Brasil e é o mais desenvolvido. Aliás, entre os 10 estados mais desenvolvidos do Brasil , o único com dimensão territorial
considerável é Minas Gerais, mesmo assim a sua área é menos da metade da do
Pará e lá, também, há "políticos mal intencionados, que não leram Smith ou
Rousseau", que querem dividi-lo em três.
Quanto aos pequenos
subdesenvolvidos, os exemplos citados, à exceção de Alagoas, são equivocados: o
Pará está abaixo de todos os estados do Nordeste no item desenvolvimento (é o
penúltimo do Brasil), o que demonstra que também são impertinentes os exemplos
embarcados no artigo do ex-reitor.
Aí vem um parágrafo que o Doutor
Fiúza de Mello se deveria ter poupado: assevera que o atraso do Pará se dá
devido "a baixa qualidade da educação". Concordo que é um dos
elementos da equação, mas, como ex-reitor da UFPA, deve saber ele o quanto é
complicado prover educação no Pará, e, quero crer, ele não fez melhor na
expansão do ensino superior no Estado (e como eu ouço reclamações da ausência
da UFPA no interior), pela completa falta de estrutura para provê-lo em um
território tão continental.
Adiante, o secretário passeia
pelas mesmas argumentações já dedilhadas pelos unionistas, não deixando de
repetir os bordões de efeitos midiáticos, como "dividir o Pará é dividir a
miséria" e demais pérolas inconsequentes, como se fossemos uma horda de
miseráveis querendo curtir, por masoquismo, sozinhos, as nossas misérias.
A certa altura, o Doutor Alex faz
as vezes de cartomante, ao prever o futuro: "o Estado tende a se tornar,
nos próximos anos, um dos principais polos dos investimentos nacionais e
internacionais" e preconiza que o nosso PIB vai crescer "acima da
média brasileira" (eu ouço isso desde o século passado). A discussão, aí,
vira uma gincana de ponta-cabeça, pois, os divisionistas, prometem a mesma
coisa se dividir: deu empate.
Ao final do artigo o secretário
faz o rabo torcer a porca, ao desembarcar com a pisada tese diversionista de
que a culpa é dos políticos (está vendo, meu caro governador, sobrou para V.
Excelência: o secretário esqueceu de observar que a culpa é dos políticos que
querem a divisão, que são os mal - ou maus - intencionados e etc...). Alega que
se os paraenses forem capazes de eleger melhores políticos terão melhores
políticas. Portanto, nós paraenses, de todos os quadrantes, na próxima eleição
nos deveremos aconselhar com o Doutor Alex sobre em quem deveremos votar: ele
será o nosso caudilho acadêmico-eleitoral.
Meu caro Alex, por favor, menos.
Você já esteve, e agora está, em um cargo político e, com certeza, vivencia as
dificuldades de não se ver capaz de realizar aquilo que a sua inteligência
poderia providenciar, e não é que você não seja um bom quadro: é somente a sua
ideia que não corresponde ao fato que você edifica (o início da sentença é com
o Cazuza).
Meu caro governador, desculpe-me
mais uma vez lhe incomodar, mas, seria de bom proveito, devido às
circunstâncias, que V. Excelência pedisse aos seus auxiliares que deixem só o
Orly no embate: o danado, sozinho, sem o Smith e sem o Rousseau, somente com
uma cuia de tacacá e uma partícula diminutiva, está dando conta do recado.
Meu caro Orly, tu ficas me
devendo esta."
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