sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Comentário censurado

Esperei até agora para ver se o deputado Joaquim Passarinho publicaria os comentários em seu blog, colocado no ar com o único objetivo de combater a criação dos Estados de Carajás e Tapajós. Como nada aconteceu, publico aqui o comentário que fiz por lá na segunda-feira, 2-9-07, e que até agora foi censurado pelo blogueiro Passarinho, que se recusa a debater de peito aberto a divisão do Pará:


"Senhor deputado,

Compartilhamos do seu sentimento de respeito por todos os paraenses e por aqueles que vieram para este Estado, ajudando a construir o seu desenvolvimento no decorrer das últimas décadas.

Acreditamos, até, nas boas intenções do nobre parlamentar de querer ver o Pará unido em torno de um projeto comum de crescimento e de melhores condições de vida para todos. Porém, não podemos comungar da idéia de que essa distribuição das riquezas e dos investimentos estatais se dará por todo o Estado, senhor deputado, porque isto vem sendo prometido desde que o Pará é Estado (ou seja, há 400 anos), sem nunca se concretizar.

Caro deputado Passarinho, sei que o senhor, ao contrário da maioria dos militantes contra a reestruturação territorial do Pará, conhece bem o sul e o sudeste do Estado, já que me lembro bem de suas andanças por aqui quando participava da coordenação da campanha do seu tio Jarbas Passarinho ao governo do Estado, em 1994. Não sei se o senhor tem andado por aqui nos últimos 13 anos, mas quero informá-lo que desde aquela época muita coisa mudou. E mudou para pior, deputado: as estradas se deterioraram, passando de vez em quando por tapa-buracos insuficientes para resolver o problema; a segurança pública não existe; a Cosanpa não conseguiu ampliar seu atendimento para um município sequer nos últimos 20 anos e onde atende, o faz muito mal.

Aliás, deputado Passarinho, quem mora em 35 dos 38 municípios do sul e sudeste do Pará não sabe que a Cosanpa existe. Já quem mora em Marabá (como eu), Conceição do Araguaia e São Félix do Xingu sabe da existência da companhia exatamente pelo péssimo serviço prestado por ela.

Aqui em Marabá, a Cosanpa atende (?) 30% das residências, sendo que em algumas áreas (a maioria) a população fica sem água por dias e semanas até. Eu mesmo acabei de mudar de residência porque não suportei mais contar com a água da Cosanpa de dois em dois dias, ou somente às madrugadas, como aconteceu nos últimos dois anos.

Ainda acerca do assunto, nobre deputado, é por essa completa ausência do governo paraense que a Saneatins, a empresa de Saneamento do Tocantins, já está adentrando ao território paraense, tendo já implantado sistema de abastecimento de água em São Geraldo do Araguaia, onde já fez funcionar também sistema de esgoto domiciliar, inclusive com estação de tratamento dos resíduos.

A mesma Saneatins está na briga para abocanhar os serviços de água e esgoto em Xinguara, Tucumã, Curionópolis e, agora, Eldorado do Carajás. E vai abocanhar. Sabe por que, deputado? Porque a nossa Cosanpa, muito mal gerenciada pelo governo do Pará, está quebrada e não consegue fazer os investimentos necessários para atender a população.

Não sei se a imprensa da capital tem atualizado os números da violência no sudeste do Pará ou se o senhor, como representante dos 143 municípios paraenses na Assembléia Legislativa, tem mecanismos para se informar do que anda acontecendo por aqui, caro deputado Passarinho. Mas, caso o senhor não saiba, o IML de Marabá já necropsiou 500 corpos somente este ano, vítimas da violência e da falta de governo. Os assaltos acontecem às dezenas diariamente, e não é somente pelas madrugadas. A bandidagem, ciente da incapacidade da polícia em combatê-la, prefere assaltar à luz do dia, às vezes ferindo e até matando suas vítimas em praça pública. O cenário, caro deputado Passarinho, é de caos absoluto com uma população acuada pelos marginais e uma polícia que não recebe o devido apoio governamental para agir. Isso, deputado, pode ser inclusive tema para um discurso seu na tribuna da Assembléia Legislativa, já que o senhor se mostra tão generosamente preocupado em manter a unidade do Pará. Respeitosamente, acho que o mínimo que o senhor pode fazer é começar a levantar seus olhos além das fronteiras da Região Metropolitana de Belém, lembrando-se que aqui nos rincões do interior existem vidas sendo ceifadas, existem seres humanos clamando por atenção de seus representantes no Parlamento e no Executivo.

Gostaria de convidá-lo, deputado Passarinho, para visitar as escolas estaduais em Marabá e ver de perto as condições em que estão sendo formadas as cabeças que terão sobre si a responsabilidade de conduzir este Estado no futuro. Alunos do ensino médio, há muito, estão estudando sem professores de determinadas disciplinas por meses ou anos a fio. É isso mesmo!!! São "preparados" para o vestibular sem ver boa parte das matérias obrigatórias porque o governo, tão rápido em combater a divisão do Estado, anda a passos de tartaruga quando se trata de realizar concurso público para suprir as vagas de professores de matérias fundamentais, como Química, Matemática, Biologia e outras.


Enfim, caro deputado Joaquim Passarinho, se for enumerar todos os problemas graves que afligem a população do sul e sudeste do Pará, vou ficar aqui o dia inteiro tomando o seu tempo, que sei muito precioso para ser ocupado por um simples caboclo do interior do Pará.

Para terminar, lembro que o anseio emancipacionista não nasceu do nada, como um simples capricho de quem não mais quer fazer parte do Pará. A febre pela divisão vem de uma doença crônica chamada abandono, deputado. E essa doença só é curada com investimentos concretos que resolvam as misérias que atacam nossa população.

Fico com o vereador Miguelito, paraense, presidente da Câmara Municipal de Marabá, que diz que o movimento pela criação de Carajás só pode ser enfrentado com uma atitude: tragam R$ 1,5 bilhão e invistam em estradas, saúde, educação, segurança, infra-estrutura urbana, saneamento, etc. Agora, com plenárias, seminários e discursos vazios, o governo e todos os que combatem a idéia da reestruturação territorial do Pará estão perdendo o seu tempo. Quando não fortalecendo ainda mais a luta pela divisão.

Um forte abraço,

João Carlos Rodrigues
Marabá - Pará"

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