segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Teste do pezinho

A governadora Ana Júlia Carepa (PT) e sua assessoria devem achar que os sul-paraenses não passaram no "teste do pezinho". Senão, como explicar a justificativa dada para a repentina viagem da mandatária do Pará ao sudeste do Estado, no último sábado, quando chegou em Marabá quase no início da noite.

Segundo a própria governadora, o objetivo da viagem era participar de uma estranhíssima "reunião de trabalho" para anunciar os resultados da operação "Paz no Campo", realizada pelas forças de segurança do Estado com o objetivo de desocupar fazendas na região de Redenção, bem como o de prender os líderes das extorsões contra fazendeiros naquela área.

Perguntada por um repórter sobre sua ida a Nova Ipixuna, ainda na noite de sábado, para comício do candidato petista à eleição suplementar daquele município, Ana Júlia deu uma explicação ridícula para o fato: disse que quem iria a Nova Ipixuna seria a "cidadã" Ana Júlia, ao passo que quem participava da tal reunião de trabalho em Marabá era a "governadora" Ana Júlia.

Se não fosse trágico, seria cômico. Vamos aos fatos:

Primeiro: no dia anterior [sexta-feira, 23], o comandante da Polícia divulgou amplo relatório sobre a operação "Paz no Campo", sendo absolutamente dispensável que a governadora gastasse nosso escasso dinheirinho com transporte aéreo, precursores, segurança, assessores, hospedagem, etc. para vir falar do mesmíssimo assunto já esgotado pelo comandante da PM.

Segundo: Está claro, até para quem não tem inteligência suficiente para ser aprovado no "teste do pezinho" [como essa gente do governo parece nos classificar], que a "reunião de trabalho" foi uma forma de dar caráter oficial à viagem de Ana Júlia à região. O objetivo real da viagem foi o comício de Nova Ipixuna.

Terceiro: para um partido que apoiou os processos de cassação do ex-governador Simão Jatene (PSDB), justamente por que este teria utilizado as aeronaves e a estrutura do governo para atos de campanha em 2002, quer nos parecer que bastou aboletar-se no poder para que o discurso desse uma guinada de 180 graus. Tudo no melhor estilo do "façam o que eu mando, mas não olhem o que eu faço".

Aliás, esse mesmo artifício foi utilizado em 2006 pelo então ministro do Desenvolvimento Agrário, que, com a esfarrapada desculpa de visitar assentamentos em nossa região, aproveitou a agenda para fazer política em benefício dos candidatos do PT.

Por tudo isso, sou obrigado a concordar com o falecido Ulysses Guimarães, que dizia que "o poder causa orgasmos". E, ao deleitar-se com o poder, nossos políticos não conseguem mais discernir sobre o que é certo ou errado. Ética e decência passam a ser palavras inexistentes no seu vocabulário. Pobre Brasil, pobre Pará!

Nenhum comentário: