sexta-feira, 24 de abril de 2009

Trambique sutil


Do
Blog do jornalista Gerson Nogueira, diretor de Redação do Diário do Pará, o mais novo membro da blogosfera paraense:

"Um trambique futebolístico

Pelo adiantado da hora e atarantado com os prazos de fechamento do jornal, não pude me alongar nos comentários sobre o jogo Fluminense x Águia, de anteontem à noite, no Maracanã. Não houve tempo para dizer, com mais ênfase, que o bravo representante paraense foi acintosamente garfado na Cidade Maravilhosa.

Não é mera questão de bairrismo, mas de justiça. O futebol vive tão contaminado por truques e maracutaias que se adotou até uma abjeta escala de bandalheiras, normalmente sacada da algibeira sempre que é conveniente atenuar roubos gritantes. Ao contrário da maioria que conformada e silenciosa, eu grito.

Além da atuação capciosa do árbitro pernambucano, que minou o sistema de marcação marabaense com cartões distribuídos com precisão cirúrgica logo no começo do segundo tempo, quem viu o jogo teve a chance de acompanhar um grande trambique futebolístico amparado na lei do impedimento.

Eric Bandeira, um dos bandeirinhas, conseguiu o recorde de errar em quatro lances capitais na partida. Três dessas jogadas envolveram o lépido Aleílson. No mais abusivo dos equívocos, aos 26 minutos, o atacante recebeu a bola a cerca de um metro do último beque e iria entrar completamente livre.

Não satisfeito, o famigerado ainda frustrou uma arrancada fulminante de Sinésio, que certamente iria ficar frente a frente com o goleiro pó-de-arroz. Nos quatro lances, o Águia haveria de fazer pelo menos um golzinho, o que mudaria radicalmente o cenário.

Costuma-se dizer, com um conformismo que resvala na desfaçatez, que os árbitros são sempre mais rigorosos com os times sem pedigree. O comentário quase sempre se encerra com um “sim, mas o que fazer?”. A resposta é simples: deve-se enquadrar meliantes que usam o apito para prejudicar um ou outro time, independentemente de sua história ou procedência geográfica. Enquanto o futebol estiver entregue a esse tipo de gente submissa aos poderosos, alguns resultados jamais expressarão a verdade das coisas, o que é profundamente desanimador.  

Na transmissão, repórteres globais tratavam os atletas paraenses com selvagens. Que coisa mais ridícula era aquela de ficar mostrando o monitor de vídeo, com imagens ao vivo, como se fosse a quintessência da modernidade. Os pascácios tiveram sorte de não pegar pela frente cabras mais destemperados, que dessem a devida resposta, ali na bucha. Ora, ora, que papo é esse de ficar badulaques eletrônicos como se o Águia tivesse acabado de chegar da tribo? Mais respeito, por favor.   

(Coluna publicada na edição desta sexta-feira, 24, do Bola/Diário do Pará)"

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