quarta-feira, 4 de julho de 2007

Desabafo

Reprodução: Imagem de TV/O Liberal Online
A morte de um segurança [Antônio Carlos Barbosa, 40 anos, foto ao lado] na frente das câmeras de TV em um posto de saúde da Marambaia, bairro de Belém, na última segunda-feira, chocou o Estado. Durante uma hora, desde a chegada à unidade de saúde do município, o homem agonizou e teve sucessivos ataques, sem que ninguém fizesse algo efetivo para salvar-lhe a vida. A falta de estrutura material e humana naquela unidade mostrou-se visível e, muito mais cristalina, a insensibilidade humana do corpo de funcionários do posto, que tratou o caso de forma mecânica, sem nenhum sentimento de misericórdia ou piedade para com o pobre pai de família.
Agora, depois do leite derramado, aparecem os urubus de plantão, como o falso médico que a população de Belém elegeu como prefeito, o indivíduo conhecido como Duciomar Costa (PTB), que apareceu na imprensa com o velho e manjado discurso do "mandamos apurar com rigor e todos os culpados devem ser punidos".
Ora, faça-me o favor, senhor prefeito, o principal culpado é o senhor mesmo, que deixou a unidade à míngua, sem profissionais adequados e equipamentos básicos para salvar vidas. A vida humana, aliás, é tratada pelos políticos [na sua esmagadora maioria] como algo descartável, sem valor.
A morte do segurança, por ter sido mostrada na TV e nos jornais, provocou discursos exacerbados na Câmara Municipal de Belém, promessas de providências pelo Ministério Público na capital, reações na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e até da secretária de Justiça e Direitos Humanos do governo do Estado. Todas as reações muito justas, se não fosse por um detalhe: se a TV não tivesse registrado a morte e a negligência do Estado no atendimento da vítima fatal, todos os órgãos acima citados, absolutamente todos, não teriam reagido com tanta força e "preocupação".
Mas voltando aos possíveis culpados pelo episódio, é preciso incluir aí as autoridades do Estado e da União, que não se movem para transformar o Sistema Único de Saúde (SUS) em alguma coisa mais digna, deixando o contribuinte e os cidadãos em geral desassistidos de atendimento. Morrem centenas [talvez milhares] de pessoas por dia, neste País, por falta de atendimento médico e de leitos nos hospitais públicos.
E aí revolta só de lembrar que há pouco tempo, muito pouco mesmo, o senhor presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, teve a cara-de-pau de dizer em rede nacional de TV que a saúde pública no Brasil é quase perfeita. Diga isso, senhor presidente, à filha do segurança morto em Belém porque os recursos de Brasília são escassos e os que chegam aos Estados e municípios, muitas vezes, ainda são desviados para outros fins. Diga isso, senhor presidente, aos pacientes que precisam de medicamentos controlados para sobreviver e não os encontram nas farmácias dos hospitais públicos brasileiros.
Um homem de 40 anos perde a vida de forma cruel, depois de uma hora infartado esperando em vão o atendimento numa unidade pública de saúde. E os mensaleiros, sanguessugas e outras pragas da política brasileira estão por aí a rir da cara dos cidadãos, porque embolsaram [e continuam embolsando] o dinheiro que deveria equipar nossos hospitais e postos de saúde, pagar melhor os profissionais e contratar mais gente para atender a população.
E em todos esses casos o presidente prefere se omitir, dizendo que nada sabe, que nunca ouviu falar, que é surdo, mudo e cego quando se trata de combater a corrupção no País.
Está aí o caso do presidente do Senado, sobre o qual os membros do Conselho de Ética (?) fazem piada e chacota, transformando-nos a todos, brasileiros, em verdadeiros palhaços da Nação, com a conivência total do Palácio do Planalto e dos partidos de sua base de apoio no Congresso, incluindo o PT, partido de sua excelência o presidente da República Federativa do Brasil.

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