terça-feira, 7 de agosto de 2007

Laicismo de araque

Escrevi um dia desses um artigo no jornal Opinião sobre a falácia da apregoada laicidade do Estado brasileiro, que tem ligações fortíssimas com as igrejas, especialmente com a religião católica. Apesar de se relacionar também, de quando em vez, com outros credos.

Na edição de hoje do jornal 'O Liberal', na coluna Repórter 70, sessão "Em poucas linhas", vejo estarrecido um exemplo dessa impregnação religiosa no Estado paraense, que anuncia, através da sua governadora, que vai liberar R$ 200 mil mensais para as obras da catedral católica em Belém, garantindo que não faltará dinheiro para a obra no orçamento de 2008.

Tais investimentos são uma afronta aos contribuintes que professam fé diferente da católica. Evangélicos, espíritas, umbandistas, gnósticos e outros tantos, além de agnósticos, humanistas e ateus, são prejudicados nesse tipo de decisão, pois, apesar de recolherem impostos exatamente como qualquer outro cidadão, vêem o seu dinheiro investido na construção ou restauração de um templo católico, fugindo ao princípio da eqüidade entre os cidadãos, tão alardeada como coluna basilar da nossa Constituição.

O "todos são iguais perante a lei", previsto no caput do artigo 5º da Carta Magna, que vá para as favas, diante dos interesses eleitorais dos governantes junto a grandes comunidades que podem render excelentes dividendos nas urnas [e aí o governo do Pará não está só, sendo essa uma prática corriqueira no país].

O Estado não pode ser laico apenas na hora de proibir o ensino da religião nas escolas. Ele precisa demonstrar a sua independência também na hora de expor símbolos religiosos nas repartições públicas [como os crucifixos nos ambientes dos tribunais]; ou quando decide apoiar a realização de eventos que, apesar de se apresentarem como manifestações culturais, como as chamadas festas juninas, nada mais são do que comemorações de santos católicos; ou ainda no momento em que resolve gastar fortunas do erário em reformas como essas de prédios históricos, mas que servem à pratica religiosa de um determinado segmento, em prejuízo de outros.

Até quando os contribuintes serão submetidos a esse tipo de aberração? Até porque o Estado carece de investimentos urgentes em áreas prioritárias como saneamento, pavimentação, educação, saúde, segurança, geração de emprego e outras.

Enquanto pacientes morrem nas unidades de saúde da capital, sob as barbas do governo em todas as suas esferas e níveis, torra-se o dinheiro do contribuinte na restauração de igrejas? Ora, façam-me o favor, mas o povo paraense merece mais respeito!

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