terça-feira, 28 de agosto de 2007

PA-279

Matéria que é manchete principal da edição de hoje do jornal Opinião:

"Campo minado
Sem-teto e sem-terra interditam rodovia PA-279

Nilson Santos (Da Redação) – Até o início da noite de ontem (27) era tenso o clima na rodovia PA-279, onde grupos antagônicos ligados a famílias de sem-terra e de sem-teto interditaram um trecho da estrada, entre Ourilândia e Água Azul do Norte. Os dois grupos estão disputando uma área de 600 alqueires, que acaba de ser desapropriada da fazenda Santa Clara, na divisa do município de Ourilândia do Norte, no sul do Pará. Pelo menos umas 500 pessoas, somando os dois grupos, estão no meio da pista desde as primeiras horas de ontem.

De acordo com informações levantadas pela reportagem do Opinião, o impasse entre os dois grupos se deu em face dos sem-teto terem se sentido preteridos, uma vez que o Incra comprou a área mediante processo de desapropriação da fazenda Santa Clara. Ali devem ser assentadas 238 famílias clientes da reforma agrária, já cadastradas pelo Incra. Os sem-teto decidiram impedir o assentamento, sob a alegação de que a terra está dento do núcleo urbano de Ourilândia e, portanto, deve ser ocupada pelos sem-teto.

De acordo com informações repassadas pelo secretário de Comunicação da Prefeitura de Ourilândia, Francisco Carvalho, por muito pouco não foi registrado confronto entre as duas facções, que estariam armadas. Mas pela parte da manhã, ainda segundo Carvalho, houve tiros no acampamento dos sem-terra, sem que, no entanto, ninguém tenha saído ferido. Guarnições da Polícia Militar (PM) foram deslocadas de Água Azul, Ourilândia e Tucumã, mas o efetivo, em número bastante reduzido por sinal, está apenas observando os acontecimentos. O comando geral da PM, em Belém, ainda não teria se manifestado sobre o problema e nem autorizado qualquer interferência direta no impasse.

Francisco Carvalho informou também que a situação começou a se mostrar preocupante há cerca de 11 dias, quando os trabalhadores rurais receberam a notícia de que finalmente sairiam do acampamento de lona preta, pois seriam contemplados com lotes. A notícia não agradou os sem-teto, que desde então já ensaiavam boicotar o processo de assentamento. Como o Incra começou efetivamente a assentar as famílias de colonos, o impasse redundou na ocupação da rodovia.

O assessor de Imprensa da Prefeitura enumerou que até por volta das 19 horas de ontem já havia uma fila de 36 quilômetros entre Ourilândia e Água Azul, e quase 10 quilômetros em direção a Tucumã. São caminhões, ônibus, carretas e todo o tipo de veículos pequenos que não estão podendo passar, em nenhuma das direções. Há cargas perecíveis que correm o risco de estragar, como carne, leite in natura e verduras e legumes. Prejuízo que pode ser incalculável, já que o sentimento dos manifestantes era, até ontem, a de manter a ocupação até que o impasse seja solucionado.

Ainda de acordo com as informações, grupos de caminhoneiros também estavam ensaiando partir para a violência, na tentativa de romper a barreira dos manifestantes. Teriam pessoas armadas, tanto entre os caminhoneiros quanto os sem-teto e sem-terra.

Por outro lado, informa ainda Francisco Carvalho, que o coordenador do acampamento dos sem-terra, cujas famílias devem ser contempladas com lotes na área da fazenda Santa Clara, já está articulando um novo acampamento. Agora para invadir a fazenda “Mil e Duzentos”, também em Ourilândia, pertencente ao pecuarista Altino Limpaus. Um grupo de 192 famílias já teria sido arregimentado por Raimundo Pinheiro, líder dos sem-terra, que já está montando acampamento nas imediações da “Mil e Duzentos”.

Diante da situação tensa, ontem mesmo o prefeito Francival Casiano (PMDB), de Ourilândia do Norte, seguiu para Belém onde hoje pela manhã deve ser recebido em audiência pela governadora Ana Júlia Carepa (PT). O encontro está marcado para as 9 horas."

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