"A liberdade de imprensa existe porque, por enquanto, Franklin (Martins) perdeu. E o fabuloso ato falho deste grande democrata
O candidato tucano à Presidência, José Serra, discursou ontem no encontro da Associação Nacional de Jornais e afirmou o que todo mundo ligado à área sabe: o governo e o PT tentam intimidar a imprensa. E opera em três frentes: 1) propõe mecanismos velados de censura por meios legais; 2) pratica intimidação econômica e financia chicaneiros na Internet; 3) mobiliza seus militantes para patrulhar o jornalismo (há um post a respeito). O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, emitiu uma nota bastante indignado.
Quando Franklin se indigna, sai de baixo! Outro texto indignadíssimo dele de que me lembro é a carta em que anuncia o seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick. Já faz algum tempo, eu sei. Mas ele mantém orgulhoso o texto em um blog até hoje. Sinal de que continua a apreciar aquele tipo de literatura. A exemplo de Dilma, companheira de Franklin, também acho que a gente deve olhar para o passado. Sigamos. Vamos ver o que diz Franklin e o que se deve dizer a Franklin, que comete um ato falho fabuloso que revela quem é e o que pensa.
“Ao dizer que o governo censura e persegue a imprensa, Serra não só falta com a verdade como contribui também para arranhar a imagem internacional do Brasil, dando a entender que nossas instituições são frágeis, e os valores democráticos, pouco consolidados”.
Em primeiro lugar, o tucano não disse que “censura”, mas que tenta censurar e que financiou conferências que pretendem criar mecanismos com essa finalidade. É tudo verdade! A Conferência de Comunicação, de que Franklin cuidou pessoalmente, consolidou mais de 600 propostas. Entre elas, está a criação de verdadeiros “tribunais da mídia”.
Oh, Franklin está preocupado “com a imagem internacional do Brasil”!!! Grande patriota! Essa imagem já está arranhada pelo abraço insano que Lula dá num tirano que, achando uma violência apedrejar mulheres acusadas de adultério, opta pelo “enforcamento humanitário”. Isto mesmo, companheiro Franklin: o Brasil é o país cujo presidente revela ter “carinho e amizade” por esse grande humanista. Nas horas vagas, o chapa de Lula nega o Holocausto, promete varrer Israel do mapa e faz chantagem nuclear. Nesse particular, não há o que arranhar. Já era! Se fosse pouco, anda de braços dados com governos para os quais a liberdade de imprensa não tem a menor importância.
Outro trecho encantador:“A imprensa no Brasil é livre. Ela apura - e deixa de apurar - o que quer. Publica - e deixa de publicar - o que deseja. Opina - e deixa de opinar - sobre o que bem entende. Todos os brasileiros sabem disso. Diariamente lêem jornal, ouvem rádio e assistem a telejornais que divulgam críticas procedentes ou não ao governo.”
Digamos que isso seja verdade. Por enquanto. Enquanto Franklin Martins estiver perdendo essa parada, será assim; se ele ganhar, não será mais. Os mecanismos propostas nas tais conferências, caso se transformem em leis, como ele quer, submeterão a imprensa a verdadeiros tribunais controlados por supostos grupos da sociedade civil que nada mais são do que franjas do PT. Um deles cria um conselho que é uma verdadeira polícia — subordinada ao Executivo!
Como Franklin, na sua indignação cívica, explicaria a PL 193, que ele gostaria de ver transformada em lei? Leiam com atenção:Proposta: Garantia de mecanismo de fiscalização, com controle social e participação popular, em todos os processos como financiamento, acompanhamento das obrigações fiscais e trabalhistas das emissoras, conteúdos de promoções de cidadania, inclusão, igualdade e justiça, cumprimento de percentuais educativos, produções nacionais.
Trata-se de um “soviete da imprensa”. Imaginem uma assembléia popular — daquelas que a gente sabe que petistas gostam de fazer, em que bate-paus do partidocontrolaram “a massa” — para debater a pauta dos jornais ou, o que é o sonho de consumo de todas as horas, o Jornal Nacional. Tudo em nome da “inclusão, igualdade e justiça”. Demitido da Globo, tenho a impressão de que Franklin gostaria de demitir a Globo… É claro que só faço uma graça, não é? O alvo é a imprensa como um todo.
Quanto à pistolagem na Internet, há pouco a dizer porque ela já não tem nem mais recorrido a disfarces. Tornou-se tão explícita, até em razão da falta de talento dos operadores, que já evoluiu para a caricatura. E o mesmo se diga de mecanismos oblíquos para usar a publicidade oficial para regular amores e ódios. A imprensa ainda é livre, sim. É livre porque tem resistido a esses assédios. Mas é lúcida o bastante, por enquanto ao menos — na sua maioria —, para perceber as ameaças.
Dilma também falou na ANJ. Poderia ter repudiado as propostas de censura, mas não o fez. Limitou-se a declarar seu amor pela liberdade de imprensa — e não há mérito nisso, já que dizer o contrário seria absurdo —, mas não repudiou seus aliados das conferências . Não só não repudiou como os acolheu, chamando-os de “movimentos sociais”, com os quais dialoga e, afirmou, continuará a dialogar. Ora, quem “dialoga” com fascistóides dessa espécie não está querendo boa coisa. De resto, essa conversa de “diálogo” é cascata. Estamos falando de ações concertadas de um mesmo partido, cujas alas podem divergir na tática, mas não no propósito.
E agora vem o trecho que revela o aspecto quase sublime desta alma autoritária. Poder-se-ia dizer que Franklin saiu do partido stalinista a que pertencia, mas o stalinismo não saiu dele. Leiam isto:“Para nós a liberdade de imprensa é sagrada. O Estado Democrático só existe, consolida-se e se fortalece com uma imprensa livre. E, ao garantir a liberdade de imprensa no país, o governo federal sabe que está em perfeita sintonia com toda a sociedade”.
O “governo federal” não garante liberdade de imprensa coisa nenhuma, meu senhor!!! Quem garante a liberdade de imprensa é o Artigo 5º da Constituição, que ainda não foi seqüestrado por ninguém, apesar das reiteradas tentativas. Franklin faz parecer que uma prerrogativa constitucional deriva de uma generosidade do governo.
Que coisa! Franklin continua dono de uma alma juvenil… A mesma que redigiu aquela carta no passado.
Como diria Dilma Rousseff, é preciso olhar o passado!"
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